cuore busy nest

cuore busy nest : . "A ciência nada tem a ver com o inefável: ela tem de falar a vida se quiser transformá-la"Roland Barthes, 1958 (ed. 1997 : 183) : . "Os Céus Dispensam Luz e Influência sobre este mundo baixo, que reflecte os Raios Benditos, ainda que não Os possa recompensar. Assim, pode o homem regressar a Deus, mas não pode retribuir-Lhe" Coleridge (maiúsculas acrescentadas :)

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quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Repost : : Entrevista impossível de Vaca Gallo a Ferida no Calo

Isabel Metello ©

VG: Ó Belita, hoje, Dia dos Enamorados, não posso deixá de aqui deixá (passo o pleuranasno), de novo, a entevista que fiz à Ferida no Calo, a mulhé mais emancipadamente amorosa que conheci. Passo a postá-la- à entevista, não à Ferida, que a essa ninguém a posta- ela é que convéte os outos em postes e de alta tensão! A Ferida é, de fato e gavata, o símbolo da paixão maso da quista.
Ah, last but not bleast, here I am, this is me, there´s no place on earth I´d rather be. Tchan, tchan, tchan, tchan, aqui tou eu, não em cáne e osso, mas em fóma imagético-digitalizante! Sou um hit iconolático, não sou? Bem, a Belita e muitas outas pessoas já me conheciam, mas ainda não tinha dado o á da minha gáça neste blop. Belita, pepare-se pa saí daí do canto, que a stá aqui sou eu!
Então, vamos lá:

Espaço informativo autoflagelante: as entrevistas impossíveis de Vaca Galo, a repórter sensacionalista-espectacularizante que alarvemente se aproveita do seu estatuto de VINP (Very Insane Non-Person).
Hoje, o alvo das suas investidas bovinas é Ferida no Calo, artista devotada à instalação estética:
- Ferida no Calo, estive a ver a sua exposição e achei o máximo aquela instalação em que utilizou como materiais casacos pendurados num bengaleiro. Então, e aquela em que colocou sapatos, botas e sandálias e até ténis e havaianas à entrada? Que originalidade, Ferida! Ninguém se lembraria de usar a banalidade vivencial de uma forma tão poética, revestindo o aspecto prosaico da existência com a aura iniciática da arte!
-Corazón, deve haver aqui algum equívoco- de facto, o bengaleiro serve apenas para pendurar os casacos dos visitantes e a sapateira foi uma das condições que impus à instituição responsável pela organização do evento- eu odeio que consporquem o meu espaço criativo com os germens corrosivos da existência sem brio! Por falar nisso, corazón, esqueceu-se de pôr as suas lindas botinhas leopardamente pintalgadas na sapateira. Recuso-me a conceder-lhe esta entrevista se não as colocar imediatamente lá! E, já agora, está aí um frasquinho de álcool para desinfectar os seus casquinhos bovinos. Eu vou soletrar: n-ã-o é pa-ra be-ber, é pa-ra se des‑com‑por‑car, des- en-va-car-se, no seu ca-so!
- Ah! Claro, Ferida, por quem é! Os artistas têm idiossincrasias tão poéticas, tão divinais! Sem elas, quase que nem podem ser considerados artistas. Os caprichos são reservados aos iluminados e a Ferida transpira iluminação!
- Bem, tenho de reconhecer que eu, agora, transpiro mais transpiração, mesmo! Deu-me uma trabalheira pendurar o meu Diogo Rafeiro no tecto pelos pulsos com malha de aço! O que o homem guinchou e guincha! Não ouve? Então, ele não percebe que é um objecto artístico? Que insensibilidade estética! O que vale é que os gritos são um elemento preponderante do sucesso desta exposição. São a melhor música ambiente que eu alguma vez poderia ter seleccionado!
- Ó Ferida, antes de mais, gostaria de lhe colocar uma questão que se me apresenta como fulcral: o que é uma instalação?
- Corazón, você faz cada pergunta mais simples! Essa cabecinha híbrida é mesmo pequenina! Existem dois tipos de instalação: a eléctrica e a estética- a eléctrica visa proteger‑nos do choque; a estética focaliza-se no oposto- em alertar-nos pelo choque, estético é claro, mas às vezes também tecnológico ou mesmo eléctrico- olhe só para o meu Diogozinho, agora, a apanhar um choque que o faz contorcer-se em movimentos frenéticos e catárticos que anunciam a confluência entre a continuidade e a descontinuidade, entre o Eros e o Thanatos tão George Bataille!


- Ah, pois é! A Ferida é mesmo uma artista completa, sabe harmonizar os objectos, os espaços, os guinchos, perdão, os sons!
- Ah, muito obrigada! Eu, de facto, sou um génio! Já dizia a minha mãe: Ferida, por esse andar, ainda que manco, vais depressa parar à ribalta, já que, querida, escrúpulos não os tens de todo e dons só os vendendo. E, olhe, aqui estou eu, sem grande esforço, sabe, um grande génio não precisa de se esforçar muito neste país, pois tudo flui, nada se perde, tudo se cria, tudo se reforma! É fantástico- neste vosso país, qualquer filho ou amigo de peixe, mesmo que não tenha barbatanas, nem sequer escamas, sabe nadar! E qualquer pequeno disparate estético, desde que devidamente promovido pelo cardume, é logo visto por estes queridos como uma obra de arte! O que eu me diverti quando utilizei a coleira do meu macaco como ornamento para a tela do meu computador, designando a obra como “A (sub)missão (de)mente!” Foi um sucesso, os discursos herméticos que se elaboraram à volta desse fait divers!
- Genial, Ferida, que sentido estético e poiético! Ó Ferida, já agora, não acha que o seu Diogo está a ficar um bocadinho para o azulado?
- Ah, é verdade, mas repare na harmonia desse tom progressivamente mais azulado com o do cenário à la derrière! Que mis-en-scène acidental! Isto é que eu chamo de work in progress! São estes pequenos momentos que me fazem pensar como tudo isto vale a pena, embora a minha alma esteja cada vez mais pequena!
- Bem, Ferida, muitíssimo obrigada, foi um prazer testemunhar a sua sensibilidade artística e humana! Meus caros leitores, esta foi a entrevista impossível com Ferida no Calo, uma artista plástica cuja genialidade ultrapassa as dimensões do edifício desta exposição! Esta vossa Vaca Galo pede-vos- dediquem-se à arte, nem que para isso tenham de colar a vossa avó ao tecto e estilhaçar o bidé da vizinha por uma autêntica Intifada! Contamos convosco na próxima edição deste espaço autoflagelante. Lembrem-se de um dos nossos lemas: “Não se deve dar pílulas a porcas, porque facilmente se desorientam”. Cherioo!

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