Anatomias ©
Isabel Metello ©
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VG: Meus caros leitores-alvo, tamos aqui reunidos no nosso espaço de talk show vitual intitulado Totós e Tontas, tendo, hoje, como convidado Passos Dias Aguiá Mota, o motoqueiro mais motard do distito de Lis da Boa....
(janela tvisiva roxo maracujá com capacetezinhos azul sangue espalhado no asfalto pa mudá de inté do locutô:)
Boa táde, Passos Dias Aguiá Mota, como tá, tudo bem? A sua cabecinha, tá boa, né? Quantos embates já sofeu com esse capacete com uns conos maiores que os toféus aficanizados que o Pai da Belita tem na sala?
PDAM: Tou bem, tou porreiro, tou fixe, pá- vim agora de um encontro no Allgarve super-cool, pá, com imenso crowd e babes a molharem a t-shirt pás festas todas bacanas, pá!
VG: A sério? Ora, ora, o Passos Dias Aguiá Mota é um vedadeiro bon vivant, sim senhora, já nascido quase há mais de 7 décadas e aí, ponto pás cuvas...
PDAM: Ah, eu sou rijo, eu nasci prá estrada, pá, tou pronto prás curvas e prás retas, pá, prás lombas, prós cruzamentos e entrocamentos, pá, sempre em frente, toujourrrs en face, como diz a minha miúda, uma garota de 25 anitos, ó pá, eu sou o rei do asfalto, o garanhão da estrada, o sultão da velocidade!
Isabel Metello ©
VG: Apre, ó Passos Dias Aguiar Mota, pa se entonizá a si pópio chega a sê melhó que muitos self-i-cones que pululam em flagante de litro no nosso panorama mediátipo! Ma, diga-me lá- o que é pa si o espírito motard?
PDAM: Épá, o espírito motard, pá, é um grande espírito, pá, um verdadeiro motard, pá, é um gajo com eles no sítio, pá, que está pronto a dar a vida pela mulher da sua vida, pá- a sua mota, a sua relíquia, a sua essência, a rainha do seu coração, pá...épá, é com ela, por ela, através dela que ele é um super-homem, pá, a velocidade sobre duas rodas é um êxtase que só os melhores, os eleitos, conseguem apreciar...
VG: Ah, sim, e acidentes- já teve?
Isabel Metello ©PDAM: Ó Vaca Gallo, pá, minha, cada acidente, cada cicatriz, pá, é uma medalha de bravura para mim, pá! Eu, sempre que caio, pá, até choro, pá, não de dor, pá, mas de tanto orgulho que tenho em dar com estes cornos no chão, pá!
VG: Ah, sim? Bem que hit, que shock! Qualqué dia, gasta-os tanto que nada resta, isto seja, lixa mesmo os conos, littera da mente!
PDAM: Não gasto pá, não gasto, pá, não lixo, pá, pois só acrescento, pá- cada baldo, cada derrapanço, cada rasgão, cada fractura exposta é mais um troféu na minha imensa colecção de coragem sobre duas rodas! Eu sou o man, pá!
VG: Uiiiii...se lo é! E, já agora, a sua cachopa costuma viajar consigo nesse side-car, né?
PDAM: Às vezes, a garina não é lá muito de side cars, ela tem a sua própria rainha, quem costuma ir aqui são os meus outros capacetes que eu adequo às regiões por onde passo na bisga- os de touro são para quando vou a Espanha, os de búfalo quando vou para países nórdicos, estes de veado reservo-os para Portugal, não sei porquê, acho que condizem com a paisagem!
Às vezes, também levo no side car o meu São Bernardo, o Harley Davidson, coitado, porque ele não pode ficar eternamente no parque de campismo à minha espera, pá! Eu sou rijo, mas sou um gajo com coração, pá!
VG: Ah, tá bem, sim senhora, coitado do HD, cão sofre! E, po falá nisso, o cão gosta dos passeios?
PDAM: É pá, ele adora, ele logo que nasceu pu-lo na garupa, pá, ele é um highway dog, man!
VG: Obigadíssima, PDAM, fique bem, um beijinho à sua mota e outo à sua cão panheira e, já agora, um abaço ao HD, tadito!
(janela tvisiva vêde aleguia com pintinhas cô-de-rosa angústia pa mudá de inte do locutô:)
Bem, meus caros leitores-visores-alvo, aqui fica o testemunho de quem elege o asfalto não só como sua causa, como como sua casa, e a sua mota como mulher da sua vida, rainha dos seus afetos!
Não nos olvidem e lembem-se: "não é por speedarem mais que chegam lá mais depessa!"
Cheeriooo, tatá!
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