IAM: Ó Vaca Galo, estava eu aqui a pensar numa conversa que tive no outro dia com uma grande amiga minha espanhola que vive há uns anos em Portugal- dizia ela que os homens portugueses es que son muy raros (esquisitos em Português, pois, em Castelhano, o vocábulo esquisito tem o significado do vocábulo raro luso)- pois, quando olham para uma mulher bonita, fazem-no não frontalmente, mas de soslaio, enquanto que os espanhóis fazem-no de forma clara e assumida.
Esta conversa fez-me pensar numa questão paralela que creio ser transcultural, apesar de mais acentuada em países onde a noção de individualidade não é muito respeitada: as mulheres com um palmito de cara e/ou corpo têm de aturar cada uma no dia-a-dia! É que, matutemos, as principais fontes de discriminação da beleza feminina não são os homens, mas sim as outras mulheres menos favorecidas que se sentem atingidas pelos atributos alheios. Ora vejamos- vai uma mulher bonita a passar na rua, quem é que olha mais e se mete mais com ela? Serão os homens? Dooong...Errrado. São as próprias mulheres. E das duas uma- ou todas elas jogam na equipa contrária, o que é improvável (sabe-se lá, não é?), ou então a cotovelite é tanta que estas tristes se distribuem por três (Eu disse três? São seis) atitudes típicas e muito previsíveis:
(a) fazem um ar furibundo e tentam não olhar de todo para a criatura que atinge o seu ego, mas o esforço é de tal forma grande que se percebe logo que, se empinam tanto o nariz, é porque algo as incomodou (esta atitude é das mais civilizadas, convenhamos, que uma mulher não é de ferro e não pretende ser canonizada, todavia, não deixa de ser triste!)
(b) tossem nervosamente ou riem-se histericamente, como se algo lhes fizesse despoletar um estado de disforia catártica disfarçada de euforia no mesmo grau de intensidade.
(c) fazem um ar de desprezo absoluto pela pessoa que nem conhecem, acompanhado por um risinho maléfico nos lábios.
(d) tentam meter-se com o alvo da sua cotovelite aguda, mas não directamente, mandam umas bocas maldosas a meio tom com o intuito de conduzir a invejada a dar-lhes a resposta merecida em tom regular, para a puxarem para o campo que dominam- a baixaria.
(e) se estiverem em grupo, incorporam o espírito de comadres quadrilheiras a olhar de soslaio, mas repetidamente, para a criatura que as faz roer de inveja e tentam descobrir tudo que possa mandá-la abaixo, fazendo insinuações do género, em voz sussurrante e com ar conspirativo (às vezes, chegam mesmo à falta de chá de porem a mão à frente da boca): "Ah, ela é bonita, mas, repara- tem uma pena mais curta-, e aqueles sapatos, ai aqueles sapatos, onde foi ela buscar aquela piroseira? Que horror! E sabem o que me disseram no outro dia...?!" Esta reacção só acontece se estiverem com as costas bastante quentes em termos numéricos, pois senão, optam por outra, digamos, que lhes evite um ricochete directo. A intenção é levar a vítima a sentir-se desconfortável, receosa e insegura. Às vezes, sai-lhes o tiro pela culatra e recebem a reacção que merecem- uma genuína gargalhada sonora, o que as faz logo dispersar, tipo galinhas tontas que ouviram um tiro do fazendeiro e "salve-se quem puder, que eu nada fiz nem nada disse, foi ela", apontando para uma das companheiras de coscuvilhice. Estes espectáculos de vaudeville são tão menores que lembram aquelas figuras ridiculamente tenebrosas dos circos da Idade Média. Mas, coitados, estes últimos estavam lá obrigados, enquanto que as invejoso-compulsivas são voluntárias no grande Circo Mundano da Frustração.
E o mais engraçado e pitoresco é quando resolvem enveredar por esta atitude em frente da sua cara-metade- se o rapaz for também muito dado a menoridades, embarca na quadrilhice e as quiduxas ficam em êxtase (eu até acho que devem utilizar este método para se entusiasmarem mutuamente); se for uma pessoa decente, cala-se, mas sente-se instintivamente intrigado, interessado e, por vezes, ai tragédia das tragédias, até atraído pelo alvo da maledicência, atitude aliás muito masculina (a Natureza, por vezes, é muito justa)!
(e) a reacção mais execrável de todas: tentam ofender, da foma mais baixa, o alvo da sua cotovelite aguda, dizendo as maiores barbaridades que poderiam inventar de alguém- para esta gente quanto pior melhor. E ai da vítima que se defenda, mesmo que elegantemente, partem para a baixaria de uma foma, que até assusta a mais vernácula das vendedoras do Bulhão!
Conclusão psicanalítica: estas quiduxas que sofrem de cotovelite aguda, ao quererem depreciar os atributos de outra que invejam, só a elogiam, porque, se pensarmos bem, todas as atitudes descritas são próprias de alguém que teme algo, neste caso o brilho de outrem, porque não tem grande auto-estima, alguém bastante inseguro que, para se sentir bem consigo próprio, necessita de humilhar alguém que o faz sentir desconfortável na sua pele (quando, de facto, se está a humilhar a si mesmo), alguém sem muita educação, que não respeita os outros nem se respeita a si. Ora, se a mulher que passa tivesse as características que elas gostariam que tivesse, elas nem sequer dariam por ela, nem sequer profeririam um pio que fosse. Enfim, mundanidades indignificantes de um quintal à beira-mar encalhado!
Ó quiduxas, façam um favor a vós próprias- em vez de depreciarem pessoas a quem a Natureza bafejou com a sorte que vocês não tiveram, porque não fazem algo para elevar a vossa auto-estima? Poderiam ajudar os outros, fazer um retiro no Tibete ou na Índia (olhem, agora com a telenovela Patrocínios, da TVIA, este destino está muito na moda), passar à leitura d´ O Segredo com olhos de ler, inscrever-se no yoga, no tai-chi-chuan, em cursos profissionais, num curso de formação cívica, em cursos de valorização pessoal, contratar um personal stylist, poderiam fazer uma plástica, um lifting, pintar as unhas, olhem, sei lá, tanta coisa, sem necessitarem de tentar pisar para subir (descer, a bem da verdade). É que fica tão mal e denuncia-vos logo. Basta o alvo da vossa cotovelite ter um bocadinho de conhecimentos psicanalíticos para vos etiquetar logo- esta, coitada, por algum motivo, pensando que me está a depreciar, está-me a fazer dos maiores e não dos melhores elogios (que esses são proferidos por outras entidades).
E, também, pensem- de acordo com os vossos parâmetros pequeno-burgueses, é uma vergonha estarem a abordar uma mulher em plena rua, ainda passam por pertencer ao lado contrário da barricada e vocês não querem isso, pois não? Não...(sabe-se lá, hoje há gente para tudo e todos aqueles que negam veementemente algo, normalmente, é porque se sentem cativados, mas reprimem-no com todas as forças do seu ser, só o assumindo anonimamente na Internet). Vá lá, voem, saltem da prancha em looping, mas deixem de se preocupar com as asas e os voos alheios. Está bem, vocês podem não ser um Boeing, mas podem ser uma avioneta jeitosa, desde que se cultivem. A inveja é um sentimento tão menor, próprio de criaturas tão pequeninas, encefalicamente falando, claro!
E por falar em encefálico, então quando uma mulher bonita é inteligente, aí, vocês não aguentam, arranjam uma enxaqueca que nem à base de chá de casca de laranja lá vão! Saravá, deve ser tão triste viver em prol de menoridades!
Quanto às bonitas que me estão a ler e que já se viram nestas situações tão incómodas, uma vez que revelam a menoridade do ser humano em todo o seu esplendor, um conselho: riam-se, riam-se muito destes cérebros tão pequeninos, cujos comportamentos ridículos só merecem uma gargalhada sonora como resposta; ou, então, ofereçam-lhes a melhor das reacções- a indiferença misturada com compaixão. Temos de ter pena das(os) pobres de espírito.
Mas, blast, but not beast, como diz a Vaca Galo, Graças às Energias Positivas do Cosmos, há, ainda, muitas mulheres bonitas, ou não, por fora, que mantêm uma beleza interior inexpugnável (nem o tempo e as rugas a derrubam)- aqui vai a sétima reacção de gente maior, emancipada e civilizada:
(f) uma mulher vê outra mulher bonita, olha com curiosidade, mas não ostensiva e fixamente, revelando educação e savoir faire et être, pode até ficar com uma invejazita do tipo- a miúda é mesmo bonita, quem me dera ter uns olhos assim!- mas, depois, passa e diz de si para que si (Vaca Galo ©): ainda bem que existem mulheres bonitas, que gostam de si, que se valorizam, que estão felizes, que fazem alguém feliz, que gostam de viver, ainda bem que existem belezas tão diversas que nos enriquecem estética e humanamente, ainda bem que muitas mulheres conjugam a beleza física com uma inteligência aguçada e princípios de vida tão elevados, ainda bem que existem mulheres que sobem na vida pelo seu trabalho e pelas suas tão profícuas capacidades (é que isto da beleza abrir as portas é um mito das menos dotadas- abrir abre, mas se a beldade for mais dada à facilidade do que ao trabalho; porque senão, e se se deparar com mulheres e homens plenos de frustrações, para as abrir só com muito trabalho e paciência, que, convenhamos, é o que dá mais gozo, as facilidades são tão entediantes!). O cosmopolitismo, a educação e a verdadeira emancipação feminina são tão bons de experimentar e de se vislumbrar no outro! São estas mulheres que, verdadeiramente, contribuem para a emancipação feminina, as outras, as invejoso-compulsivas, fazem mais num dia em prol da discriminação do seu próprio género que todos os homens juntos num ano!