cuore busy nest

cuore busy nest : . "A ciência nada tem a ver com o inefável: ela tem de falar a vida se quiser transformá-la"Roland Barthes, 1958 (ed. 1997 : 183) : . "Os Céus Dispensam Luz e Influência sobre este mundo baixo, que reflecte os Raios Benditos, ainda que não Os possa recompensar. Assim, pode o homem regressar a Deus, mas não pode retribuir-Lhe" Coleridge (maiúsculas acrescentadas :)

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domingo, dezembro 12, 2010

:) da piromania das palavras em forma de queimada simbólica regeneradora :)

...segundo o Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrandt (1982: 331), o fogo é, por essência, excelência e exuberância, o elemento que simboliza a purificação e a regeneração espiritual, tanto a ocidente como noutras paragens mais orientais...exaltado como foco da catálise de purificação da alma na liturgia católica, não admira que constitua o móbil de um rito sagrado na noite em que se celebra a Páscoa, quando da morte do "Cordeiro de Deus que Tira o Pecado do Mundo..."


...ora, não raro, a mente humana, modelando, pela sua arrogância vivencial, fenómenos cujo conceito lhe escapa, corporiza a noção de pecado enquanto mero vício de um corpo ou de uma mente a este subjugada, que venera enquanto fim em si mesmo (tal como o fez e faz com o ícone, não percebendo que tanto um como o outro são meios, não fins, que o concreto jamais se sobrepõe ao Energético, numa Lógica Sagrada :); quando a noção de pecado ultrapassa em muito frames argumentativos telenoveleiros aplicados a Textos Cuja Essência lhes Escapa de todo...quando assisto à elaboração de tratados de estética tão sofisticados sobre a ligação do Sagrado a artes cinéfilas com temáticas algo animalescas porque redutoras do ser humano à obscenidade, fico aterrada, não por pudor, mas porque julgo que a arrogância humana não tem limites...a lógica da autocentração é tão forte que, em vez de se tentar elevar o terreno tenta-se rebaixar o Céu (seja Esta Dimensão de que Credo for, pois uma visão holística concebe todos Os Textos Sagrados como detentores de uma Gramática Universal que Comunga de Princípios Transversais, só particularizados e diversificados por parâmetros, como na teoria de Chomsky sobre as línguas...:)


...mas, voltando ao fogo - na tradição católica, na noite de Páscoa, fora do sagrado templo, acende-se uma fogueira e celebra-se um rito ancestral em Honra do Momento Catártico da Ressurreição de Cristo que, por mais humanizações levianas A que Seja Sujeito, numa estética objectivada de quem não entende que Este É Um Momento Sublime e que O Sagrado Escapa à Lógica Humana da enunciação da perversão pela revolta contra a prévia repressão...no fundo, a imposição de uma forma terrena a Dimensões Transcendentes, que nada Têm a ver com aquela que experienciamos, já vem de longe pela sua representação concreta...o fenómeno é intemporal e transversal em termos culturais e repete-se quando se pretende impor a lógica da ilustração dos sambenitos au contraire....isto é, de uma forma tão latina, combate-se um extremo pelo seu, superficialmente, oposto, mas estruturalmente idêntico, substituindo uma interpretação literal de Palavras e Alegorias por outras mais despudoradas e apocrifamente distanciadas, mas apenas desviadas, catapultadas por um desejo irreprimível de subverter o que se considera repressivo, quando a opressão advém da própria apropriação humana do Que É Divino...


...no fundo, repete-se a mesma lógica que na política - derrubam-se ditaduras para se instaurarem democracias burocráticas, que descambam em dinâmicas quotidianas herdeiras dos paradigmas autoritários anteriores que se renegam no palco, mas que se actualizam nos bastidores, defendendo-se sob os holofotes remédios que nem como placebos se afirmam, dado que combatem causas superficiais e não estruturais...
...voltando à simbologia do fogo, este está associado a Esse Sublime Rito de Passagem Expresso nalgumas lendas que O evocam enquanto Móbil da Revivificação do Santo Corpo do Filho de Deus "Que se Fez Homem", Consubstanciando A Sua Dupla Face Divina e Terrena...fogo que o alquimista usa para recriar a imortalidade.....fogo que, na China, o taoísmo elege a foco de libertação das limitações da condição terrena, à semelhança do carro inflamado de Elias, enquanto os ioguis o associam "ao plexo solar e ao manipura-chacha"...fogo sacrificial hindu que o budismo recria sob a forma de "fogo interior", elevando o coração ao lar da alma e a chama a símbolo da auto-superação do ego (Sumyuttanikaya, 1, 169)...


...fogo que, segundo os Upanixados pode queimar a superfície, mas não chega à estrutura...fogo que está, assim, intimamente relacionado com o nosso Arquivo Emocional, com o coração (em direcção ao qual os ortodoxos finalizam o sinal da cruz, ao contrário dos católicos... )...fogo que, despoletando processos anímicos purificadores e iluminadores, se afirma como um prolongamento da Luz Divina...Daí que, em Sânscrito, os significados de puro e fogo sejam expressos pela mesma palavra que significa sublimação e elevação a dimensões mais altas...
..."O simbolismo do fogo assim orientado assinala a etapa mais importante da intelectualização do cosmos e afasta o homem cada vez mais da condição animal", para além de ser o "deus-vivo e pensante (e. Burnuouf) que, nas religiões arianas da Ásia, teve o nome de Agni, de Athor, e, entre os cristãos, de Cristo (DURS, 182). O isomorfismo do fogo aproxima-o do do pássaro, símbolo ucraniano (...) mas o fogo apresenta também um aspecto negativo: obscurece e sufoca com o fumo; queima, devora, destrói..."


...e poderão as palavras, qual queimada africana, deter este sentido destrutivo como meio purificador de um terreno profanado, em vias de sublimação, com vista a uma revitalização interior, assim como a um processo de resistência face a maquiavelismos exteriores que se desejam o mais longínquos possíveis tanto em termos espaciais como temporais? podendo-se até almejar, por essa via, se não erradicar, pelo menos, adormecer memórias?...creio que sim, uma vez que não sendo este post um apelo a ímpetos pirómanos concretos (longe de mim tal maldade!), pretende-se afirmar como uma uma apologia do fogo das palavras enquanto via de resgate anímico, de sublimação, de purificação e regeneração da alma pela libertação do verbo...
...se o fogo de certas palavras pode converter textos em autênticos reality shows? e o que, hoje, não o é??? uma visão holística estrutural não permitirá perscrutar que a personalização do discurso, num contexto de redefinição dos limites entre o espaço público e privado, se afirma como um paradigma globalizado? e quem julga que pode julgar o que desconhece?...que aponte e atire a primeira caneta, tecla ou mesmo visor quem não o faz, de forma mais ou menos explícita, para adquirir um salutar distanciamento narrativo de si e da realidade subjectivamente


perscrutada que lhe permita restabelecer o equilíbrio interno face a um eterno "mundo às avessas", ao mesmo tempo que defende direitos inalienáveis próprios ou alheios...até porque há recantos sacrossantos de cómodas existências que, até pela sabedoria que invocam, não deveriam modelar o mundo de acordo com o seu sofá ou vista da sua varanda particular...
...a independência intelectual que aqui se defende foca-se numa rota que se julga construtiva porque desconstrutiva de pólos destrutivos, logo legítima...até porque o que está em causa não são banalidades de guiões telenovelescos (essas, ai!, essas já foram digeridas há muito! ), mas princípios basiares, gratuitamente, atropelados, vidas defraudadas de pessoas que viveram plots delineados por mãos e (de)mentes alheias, nos quais julgavam fazer parte dos protagonistas, ainda que em enredos tão sofridos quanto ignóbeis, mas se revelaram meras figurantes em mira da anulação social total, alvos a abater, através de um processo de desgaste psicológico contínuo...e é esse resgate da Verdade e da Dignidade Pessoal, pelo esclarecimento total de um passado imposto como presente que está em curso, doa a quem doer...

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