...ora, aqui está uma boa ocasião para não só cumprir o meu dever :) “O povo português é essencialmente cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”, garantindo que, aqui, se adora o Polilogismo e a Liberdade de Pensamento e de Expressão, como para explicitar uma paradoxalidade sociocultural dominante que sempre me deixou um pouco apoplética- talvez por eu própria ser meio mista e desenraizada, confesso (ainda há muitas dinâmicas locais perante as quais empaco, sem saber o que dizer nem o que fazer, nem o que pensar- é quando me afasto e me sento no chão ou numa árvore (se puder :))), pois se não entendo os códigos à primeira, para quê ter de os decifrar à terceira?...:)
...há sempre coisas que prefiro não saber, mesmo que o meu radar lhes detecte os contornos de imediato, não sei, talvez porque, apesar de adorar a Verdade como Princípio (ainda que lhe perscrute algumas perspectivas particulares relativas, considero-a um Valor Absoluto :), creio que há partes dela que não se devem saber, sob pena de um total desencanto perante um mundo já, por si, desencantado e cheio de disrupções trágicas e decadentes...
...esta minha incompreensão sociocultural talvez se deva a essa miscigenação que me modelou para a vida, embora tenha cá passado muito mais tempo em termos numérico-temporais do que Lá (embora Lá seja um Espaço Simbólico onde resgato, desde sempre, as forças para aguentar o cá- no fundo, é como aquele cenário idílico que a hipnose regressiva clínica nos manda criar para o termos como salvaguarda em caso de perigo de naufrágio ... :)
...então, vamos lá- não considero a matriz sociocultural lusa dominante como cosmopolita, apenas julgo que muito boa gente que de cá partiu e parte para os antípodas demonstrou e demonstra uma capacidade ímpar de descentração no contacto com outros povos e modi vivendi, afirmando-se como autenticamente cosmopolita (como foi o caso de Luís de Camões, do Padre António Vieira, de Fernando Pessoa, do Senhor Cônsul Aristides de Sousa Mendes, do Professor Eduardo Lourenço, entre tantas Almas Anónimas ou Famosas Sublimes (AAFS, Avé! :)...
...creio que nos processos de colonização portugueses, embora díspares conforme os contextos topológicos, claro que houve atrocidades praticadas por gente malévola (mas onde é que não há gente de má índole? aqui não há? ui!!! :), mas, no geral, estes, diacronicamente considerados, foram muito humanos ( no sentido de humane :), pelo menos, muito mais humanos do que aqueles que substituíram a caça à raposa pela do aborígene ou do que os que dizimaram etnias a metro (ainda que nalgumas placas do British Museum sejamos considerados uns selvagens e os outros como uns heróis, mas enfim, toda a gente sabe que a História é feita pelos vencedores, pelo poder, pelo dinheiro- excepto nos casos como o da aldeia gaulesa resistente do Astérix e de outros pequenos mundos mais reais que, enquanto meras pequenas gotas de água salina , conseguiram e conseguem mudar marés...
...ora, se a matriz cultural portuguesa fosse cosmopolita as benévolas excepções à regra, fossem em que área vital fossem, não seriam penalizadas (reparem quantos Grandes Homens e Mulheres Nossos Compatriotas morreram e morrem na miséria e no ostracismo, sendo, injustamente, enxovalhados, pisados e socialmente abatidos por canalhas, modelados e modeladores por/de uma dominante cobardia gregária congénita e alcateizante...:)...
...quantos acirrados revolucionários vermelhos pós-25 de Abril não eram no dia 24 colaboradores do regime, passando, impunemente, de um para o outro como quem passa de um jantar de cerimónia para uma discoteca mais atrevida?... quantos outros não fizeram o percurso contrário pela consciencialização do proliferar da canalhice e do oportunismo conjuntural?
...a matriz cultural lusa sempre adorou e adora a mediania sistémica, pois é com ela que se identifica e é nela que encontra o seu espaço de conforto e a mediania sistémica não aprecia desconstruções ônticas nem desestabilizações caóticas, só as venerando quando já estão incorporadas pelo sistema numa dinâmica muito hegeliana, quando já perderam, em parte, a sua vitalidade revolucionária, de ruptura com narrativas sedentárias e sedentarizantes...
...daí que considere que muita gente que de cá saiu e sai nunca desistiu e desiste de uma matriz ainda muito rural, muito afoita ao materialismo, ao concreto, à posse, nada espiritual e descentrada, logo, nada cosmopolita...não pode haver cosmopolitismo sem descentração, respeito pela diversidade individual, que todos temos, mas uns são mais capazes de a expressar que outros, Verdadeiro Amor à Liberdade de Pensamento e de Acção (a Liberdade, contrariamente à Libertinagem, implica um total Respeito pelo Outro que nos É Distinto, mas sempre Próximo! :) ... o cosmopolitismo não consente gregarismos desresponsabilizantes, rebanhos cósmicos de pensamento e aversão ao confronto civilizado de ideias e projectos, ao mesmo tempo que não se coaduna com a adoração adolescentalizada do consenso uníssono, assim como a ofensa rasteira e o descambar para o palavrão fácil, acompanhado pelas mãos na anca mais ou menos griffizada...
...o cosmopolitismo assenta num insaciável deslumbre pelo contacto com a Diferença que, embora nos respeite, nos desestabiliza cosmos estagnados...ora, a matriz sociocultural dominante lusa adora a cristalização...não sou eu que o digo, fui beber estas constatações a verdadeiras mentes que admiro pelo brilhantismo e integridade intelectual (sempre tão raras! :), que demonstraram e demonstram em tempos em que, realmente, dói...
...daí que tenhamos mínimos ditadores (quando digo mínimos refiro-me não à quantidade industrial de prepotência e arrogância provinciana por m2, mas à mediocridade latente e patente:) presentes que têm a suprema lata de criticar um pretérito ditador que, ao menos, foi sepultado em campa rasa e teve o mesmo par de botas durante 40 anos (e, atenção, s´il vous plaît- digo-o sempre- se eu tivesse vivido, como adulta, no "tempo da outra senhora", de certeza absoluta que dava com os costados no Tarrafal :)))...daí que tenhamos políticos gay a querer fazer crer que o senhor jogaria basket e, dado que tal versão não pegou, o tenham querido passar por devasso, logo o homem que era um simplório e até de avião tinha medo de andar (sem o saberem (será? :) todos estes revolucionários de pacotilha são os seus legítimos herdeiros, pois aplicam, na prática quotidiana, aquele provincianismo muito avesso a ondas e à Autêntica Liberdade de Pensamento, de Expressão e de Acção...:)
...ainda, hoje, me faz confusão como é que nós mulheres julgamos estar emancipadas num país que, diariamente, nos nega direitos basilares, em que são as próprias mulheres a discriminar outras porque sim, porque embirram com as cores das unhas alheias ou porque julgam que os maridinhos lhes podem escapar pelas escapadelas de olhar que, depois, dizem ser da culpa de quem por eles se limita a passar, fingindo-se muito libertárias, quando, de facto e circunstância, não passam das herdeiras legítimas das beatas queirosianas, apenas com mais maquilhagem, acessórios fashion e atitudes mais assertivas, mas nem por isso menos azedas, talvez agridoces, para disfarçar...
...pseudo-libertárias que, estranhamente, não raro, viajam por tantos países e vêm na mesma, como os emigrantes que em França viveram tantos anos, para regressarem e reforçarem a forte matriz rural que lhes moldou as raízes...e, atenção, sempre respeitei muito quem trabalhou e trabalha no duro e reconstruiu e reconstrói a sua vida do nada, não é isso que está aqui em causa, muito pelo contrário, pois a matriz sociocultural dominante perniciosa a que me refiro é transversal a todas as classes sociais, faixas etárias, de género...
...daí que, segundo especialistas, nós sejamos todos juntos em uni-som um case study complicado a nível psicanalítico, pois a dualidade é colectiva, como perscruta o Professor Eduardo Lourenço (que a denomina como esquizofrenia :) :) (a) somos tão subservientes para os estrangeiros que nos tomam como humildes, quando (b) somos totalmente arrogantes para quem julgamos, hierárquica ou socialmente, inferior; (a) somos capazes de nos descentrarmos para falar idiomas alheios com perfeição, (b) mas somos incapazes de o fazer para dialogar com um pobre na rua ou com alguém com mau aspecto; (a) adoramos diminutivos, mesquinhices e colecções de miniaturas, mas tb (b) veneramos megalomanias novo-riquistas; (a) ajoelhamo-nos perante o concreto, lojas de marca e o nosso ego despótico arrogante (b), mas julgamos ser um povo tão espiritual e bonzinho, protegido pelo Divino; (a) andamos sempre com a liberdade na boca e, na prática, negamo-la, constantemente...
...perdoem-me, mas, ontem, vi o Mentiroso Compulsivo e estou como ele- até às 21.45 digo tudo o que me passa pelo cerebelo...
...conclusão:) houve e há muitos portugueses cosmopolitas, mas a matriz sociocultural dominante nunca o foi, não é e Deus Queira que se torne, para que Portugal cumpra Um Destino que Merece, mesmo tudo considerado...creio que os media em geral, as TIC e a democratização das viagens aéreas e concomitantes contactos com a Diversidade Benévola (a que Respeita o Outro :) podem servir como óptimas forças de erosão daquilo que sempre obstaculizou a afirmação da excelência por portugueses cá e não lá- a mediocridade sistémica, entrópica e endogâmica...Salvaterra de Magos!